O CONTADOR DE HISTÓRIAS
Comecei a gostar de contar
histórias, como efetiva ferramenta pedagógica, em Izeda, na fileira do
refeitório, aos jovens dos serviços tutelares de menores. Já passaram mais
de 30 anos. O público, muito exigente, contribuiu para o apuro das competências
de contador e a necessidade de renovar o repertório despoletou uma profícua
curiosidade por esta caraterística social genuinamente portuguesa.
Às histórias e anedotas
transmitidas oralmente pelo meu pai, por idosos do bairro d' Além do rio e das
aldeias da periferia de Bragança juntaram-se outras, recolhidas na fecunda
região de Trás-os-Montes e nos livros que, por missão académica, consultava.
Contar histórias pedagogicamente corretas e outras “vermelhas” sempre foi uma
estratégia para despertar alunos ensonados das aulas das 8.30 e, porque não,
como pontos de partida para testar a expressividade e as caraterísticas da voz.
Transformadas em peças de teatro, proporcionavam preciosos elementos de
avaliação nas aulas de expressão corporal e artística do Instituto Piaget.
Alfred Tennyson dizia “Sou uma parte de tudo aquilo que encontrei no meu caminho” eu atrevo-me a dizer “Eu sou a mistura de tudo o que encontrei no meu caminho”.
No trajeto, o teatro e as
artes que gravitam em seu redor, cruzaram-se de forma harmoniosa e coexistiram
sempre de forma complementar, as minhas construções gigantes são um belo
exemplo dessa partilha. Pedi aos meus amigos, companheiros de aventura nos
últimos 20 anos em diferentes contextos, para manifestarem as suas opiniões
sobre a experiência partilhada.
Não pretendi publicar um
livro de recolhas, muito menos um livro sobre os benefícios da arte dramática
com definições e reflexões de autores conceituados. Queria que fosse agradável
à leitura, com ilustrações que piscassem o olho às crianças, simultaneamente,
ambicionava criar um documento diferente, de salvaguarda de algumas memórias da
tradição oral.
O desiderato maior é que a obra TEATRO – Histórias & Narrativas da Tradição Oral Transmontana se transfigure numa ferramenta de apoio a professores, animadores, técnicos que acreditam que o teatro (ou o que lhe queiram chamar) está ao alcance de todos, desde que respeitem os códigos intrínsecos a esta forma de comunicar.
Um livro com soluções,
exequíveis, acessíveis e simplificadas para dramatizar em qualquer lugar e em
qualquer momento. Uma ferramenta que transforme as rotinas pedagógicas dos
gestores de grupos formais/informais (crianças, jovens, adultos ou seniores) em
momentos especiais.
Nessa perspetiva, as Histórias & Narrativas da Tradição Oral Transmontana surgem
no formato de pequenas peças de teatro, algumas brilhantemente ilustradas pelo
Zé da Fonte, outras com sugestões pessoais para uma viagem pelos sentidos: do conto à dramatização e, porque não, ao palco.
Acácio Pradinhos